terça-feira, 5 de março de 2013

Dormindo na rodoviária


Depois de muitos anos, olha eu aqui voltando a estudar.
Saí da faculdade e fui acelerado para a parada de ônibus. Sabia que tinha de ser rápido, pois já estava quase no seu horário de passar.
Deu certo. Mal cheguei e ele apareceu no início da avenida. Estava com sorte.
Esse primeiro trecho, ia do centro de Jacareí até a rodoviária de São José dos Campos. Um trajeto de vinte e cinco a trinta minutos. Tempo que teria de ser cumprido. Caso acontecesse algo no trajeto, perderia o último ônibus para Caçapava, a cidade em que moro.
Pois é.... perdi.  Por cinco minutos, fiquei para trás.
Eram 23h35. O próximo ônibus? Só às cinco e trinta da manhã. Não tinha jeito. Tinha que dormir na rodoviária, mesmo.
Ajeite-me numa poltrona, liguei o mp3 do celular e, ao som do Nirvana, adormeci.
De repente, senti um dedo a me cutucar. Assustado, eu abri os olhos e dei de cara com um homem jovem, barbudo, de boné, a menos de um metro de mim, que sorrindo disse:
- Ô moço! Cê tem dois “reaus” pra eu tomar um café?
Ainda sonolento, olhei para o relógio da rodoviária que marcava 00h00 e, apertando minha mochila junto ao peito, disse que não, que eu estava sem grana. Acho que fui convincente, então ele se foi.
Olhei para os lados e tudo estava calmo e vazio. Não vi nenhum comércio aberto. Onde o cara iria tomar o café? Sei, não... voltei ao meu cochilo.
Novamente, senti uma mão me tocando e despertei. Era ele, de novo e falou:
- Moço, você não tem dois “reaus” pra eu tomar um café?
Rapidamente neguei outra vez, alegando não ter dinheiro comigo, só o da passagem para ir embora. Ele me olhou seriamente, abriu um sorriso e disse já se retirando:
- Deixa que eu resolvo.
Achei melhor trocar de lugar e sentei-me em outra poltrona, ao lado do guichê de informações. Lá pelo menos, haviam duas pessoas trabalhando. Estaria mais seguro. Coloquei a mochila no colo, olhei em volta, em busca do relógio que marcava 01h11. Muito estranho... quer dizer... para mim normal. Voltei ao cochilo. Precisava descansar um pouco, pois iria direto para o trabalho. Dormi.
Um toque, outro e acordei novamente.
Não era possível. O mesmo cara de novo.
Pensei... “vou dar logo um dinheiro para ele, assim me deixará em paz”, mas foi ele quem me surpreendeu dizendo.
- Ô moço... vamos lá tomar um café, tá muito frio aqui. Consegui quatro reaus pra nós.
O que falar? Antes mesmo que eu falasse algo ele estendeu sua mão insistindo:
- Tudo bem, vamos lá.
Foi andando e fazendo sinal para que eu o seguisse. Fiquei paralisado por um momento e então o segui. Havia uma lanchonete aberta. Como não a tinha visto, não sei, mas fomos até lá.
- Moço, me vê dois “café”, disse ele dando ao caixa os quatro reais, muito amassados que tirou do bolso.
Pois bem, seu nome era Willian. Estava desempregado e sem ter onde ficar, tentava arrumar uns trocados para pegar um ônibus pra Caraguatatuba, onde tinha família e mesmo assim fez questão de pagar meu café.
Depois de conversarmos um pouco, convenci-o a me deixar pagar um pão de queijo em gratidão ao café, já que não aceitou ajuda para passagem, disse que arrumaria.
O sorridente Willian é gente boa. Talvez, só precisando de um pouco mais de sorte para se dar bem.
Enfim... pedi ao meu “Amigo” maior, que cuidasse dele. Fiquei mais tranquilo, sei que Ele sempre me atende.
Essa vida é uma escola mesmo e eu... um aluno só razoável...
Aprendi mais uma.



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